sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
3 - Mas se, no entretanto, não ficar satisfeito, utilize até aos últimos segundos todo o tempo que a escola lhe oferece para o ter à sua guarda. Na passagem, insurja-se contra o modo como as crianças têm "brincadeiras parvas" e se aleijam nos recreios e, se puder, reclame com elas. De seguida, não esqueça que ele deve ter inglês, computadores, catequese, judo, pintura e explicações (muitas, de preferência). Se, ainda assim, não se sentir sossegado, ponha na ordem os professores que não mimam as crianças com muitos trabalhos de casa. É claro que não o deve deixar brincar no pátio. Lembre-se que a Play Station dá cabo dos olhos e da cabeça dos miúdos, que os desenhos animados são violentos e que os morangos são o que todos sabemos. Se, finalmente, ao jantar, lhe quiser lembrar que a vida não está para brincadeiras isso ajuda, também.
4 - Por favor, tenha em atenção que ele não deve, em circunstância nenhuma, brincar com armas ou com outros brinquedos violentos. E se - coisas do diabo, já se vê! - se tomar de amores pelo irmão e voarem umas almofadas pela sala ponha-o, com rigor, de castigo. Mas, de preferência, não se distraia e não cometa a indelicadeza de o castigar, retirando-lhe tudo o que ele já não tem.
5 - Se - por macaquice, ou por coisas assim - ele navegar na net, é claro que deve - antes! - instalar um programa de espionagem só para pais. E não se canse de lhe recomendar que ele não tem à distância de um clicar a mais fantástica enciclopédia da humanidade, mas um conjunto de sites e de ... "porcarias"! Não o deixe tagarelar com os amigos no MSN e prive-o, se faz o favor, de sms porque há quem diga que lhe deforma o polegar.
6 - Imagine agora, que um professor é infeliz com ele e o magoa por dentro, ao pé dos colegas ou seja como for. Lembre-lhe que ele tem que aprender a resolver os seus próprios problemas. E, depois disso tudo, se um colega o humilhar ralhe antes de mais. Pergunte (de seguida) o que é que ele terá feito para alguém lhe ter batido. No final, se lhe forem escasseando os argumentos, intime-o a defender-se. Se, por infelicidade, estiver com os nervos em franja, tem sempre a possibilidade de repor a ordem reclamando contra a "falta de tempo de qualidade" que assola todos os pais ou com um desabafo do género: "que fiz eu para merecer isto!"
7 - Depois disto tudo, se a criança começar a afundar as olheiras e a chorar por tudo e por nada, não se esqueça de reclamar contra a reforma educativa e, de preferência, embaraçar um director de turma mais disponível, argumentando que se as crianças passam mais tempo na escola do que em casa ela é, seguramente, de entre todos, a primeira responsável pela terrível respectiva educação. E se a criança, entretanto, estiver desatenta, ansiosa, num sufoco, de duas uma: ou é hiperactividade ou um défice de atenção. E,em vez de tentar encontrar um motivo para tamanho desvario, sugira uma medicação urgente (com mão leve, de preferência).
8 - Por fim, descanse. Foi duro mas é possível: tem, finalmente, uma criança à sua medida. Ah!... E, se alguém lhe disser que as crianças aprendem com os exemplos dos pais não repare. Há gente capaz de tudo!
Eduardo Sá
(in Revista Pais & Filhos)